Para entender o que este disco significa, é preciso voltar no tempo. Mais precisamente no final da década de 1980. Naquele período, a banda alemã HELLOWEEN era uma das maiores estava em plena ascensão, uma vez que havia acabado de lançar dois dos mais importantes álbuns da história do Heavy Metal. À saber, ambos chamados “Keepers of the Seven Keys”, levando o subtítulo de Part I (1987) e Part II (1988). Estes dois discos podem ser considerados os maiores clássicos da historia da banda e também o ponto de partida daquilo que se convencionou chamar de Metal Melódico aqui no Brasil, e que na Europa é conhecido como Speed Metal. Sem duvida dois dos mais influentes álbuns de Heavy Metal em todos os tempos. Até aí, tudo ótimo, e o grupo tinha tudo para se tornar um dos maiores em todos os tempos. Porém, uma das peças-chave da banda, o guitarrista e um dos principais compositores do grupo, Kai Hansen, alega problemas internos e deixa seu posto. Assim, a banda recruta Roland Grapow para seu lugar e, dessa forma, dá continuidade à sua carreira e lança dois álbuns. Entretanto, ambos com qualidade muito abaixo da esperada. O médio “Pink Bubbles Go Ape” (1991) e o fraquíssimo “Chamaleon” (1993).
Já Kai Hansen resolve montar uma nova banda e a ela é dado o nome de GAMMA RAY. Para compor o novo grupo, Hansen recruta Ralf Scheepers (ex-TYRAN PACE), um velho conhecido, para os vocais. Eles se conheciam da turnê do álbum “Walls of Jericho” (1985) do HELLOWEEN, onde Scheepers atuou como vocalista contratado da banda, pois Hansen achava muito complicado cantar e tocar guitarra ao mesmo tempo. Isso me faz pensar em como teria sido se ele se efetivasse como frontman do HELLOWEEN naquela época...
O GAMMA RAY era completado por Uwe Wessel (Baixo) e Mathias Burchardt (Bateria), além de Kai Hansen no comando das seis cordas. Assim, o grupo estava formado e já, naqueles tempos, começava a gerar expectativa.
Em 1990 lançam o debut “Heading For Tomorrow”, que parece começar exatamente de onde havia parado a segunda parte dos “Keppers”. Com aquele Heavy Metal veloz, melódico, alegre e bombástico, no melhor estilo Happy Happy Helloween. De forma, que mesmo o HELLOWEEN tendo lançado, quinze anos mais tarde, um álbum intitulado “The Keeper of Seven Keys – The Legacy”, como uma continuação de seus discos do final da década de 80, o verdadeiro Keepers III é este “Heading for Tomorrow”.
Dito isso tudo, agora podemos nos concentrar no disco em si. A exemplo da tradição começada logo nos primeiros álbuns do HELLOWEEN (alias, esse artifício é usado até hoje por nove em cada dez bandas do estilo), o CD abre com uma pequena introdução orquestrada que vai crescendo até desembocar na próxima faixa. No caso, esta segunda faixa, como manda o figurino, é uma das mais velozes do álbum. Seu título é “Lust for Life” e ela é um típico Speed Metal oitentista, senão, vejamos: riffs ultrarrápidos e curtos, bateria e baixo igualmente veloz e vocal tão alto que parece querer alcançar os céus. Aliás, os vocais são um show à parte em todas as músicas. Pode-se até dizer que Ralf Scheepers era o substituto ideal para o fenomenal Michael Kiske, que também viria a deixar o HELLOWEEN nos anos 90.
A próxima faixa, “Heaven Can Wait”, é outro destaque absoluto. Mesmo sendo mais cadenciada, consegue ser muito empolgante e seu extraordinário refrão grudento fica na cabeça logo nas primeiras audições.
Na sequência temos “Space Eater”, que começa com sons futuristas e, depois que ganha forma, segue o estilo da anterior, cadenciada e com refrão marcante. O curioso é que a ponte que antecede o refrão chega a ser ainda mais empolgante do que ele próprio. Completando o começo avassalador, está a insana “Money”. Que empolga logo de cara com sua velocidade e os contrapontos vocais de Ralf Scheepers e Kai Hansen que se alternam o tempo todo nesta divertida faixa. Uma das mais legais deste baita disco.
Confirmando a fama de Keepers III, assim como os álbuns do final da década de 80,”Heading for Tomorrow” também tem sua balada. Nele ela se chama “The Silence” e conta com uma bela levada de piano e voz, até ganhar peso e alguma velocidade, para depois ficar lenta novamente. Uma belíssima música, sem dúvidas.
Já “Hold Your Ground” retoma o clima alegre das primeiras canções do disco, mas apesar de não ser ruim, não possui o mesmo impacto das anteriores. Enquanto “Free Time”, a única música composta por Scheepers, (ou devo dizer a única não assinada por Kai Hansen?), tem um clima mais rock n’ roll, algo como aquelas músicas mais roqueiras do JUDAS PRIEST, como “You/ve Got Another Thing Comin”, por exemplo, sendo outro ponto alto do disco.
Depois, temos a épica faixa que dá nome ao álbum. “Heading for Tomorrow” tem mais de 14 minutos de duração e reveza entre razoáveis e bons momentos em seu percurso. O que acontece é que ela parece um pouco forçada e não precisava ser tão longa. Já que muito tempo dela é perdido com partes instrumentais não muito inspiradas. Se ela fosse editada praticamente só com as partes em que o vocalista dá as caras, seria uma composição bem melhor.
Por fim, não se deixe enganar pela terrível arte de capa que este álbum possui, que como diz um primo meu, parece mais uma dupla sertaneja; pois este é um álbum que merece estar presente na coleção de qualquer um que diga gostar de Metal Melódico. Já que ele funciona como uma continuação dos dois maiores clássicos do estilo, porém com identidade própria.
“Heading for Tomorrow”, é um excelente disco e caso você ainda não o conheça, procure o seu o quanto antes. Vale a pena ouvir as composições inspiradas de Kai Hansen e o vocalista Ralf Scheepers, hoje no PRIMAL FEAR, em um de seus melhores trabalhos.
5 comentários:
Belo review cara, mas eu não diria que "Hansen achava muito complicado cantar e tocar guitarra ao mesmo tempo", pois o que parece ter havido foi que Kai ficava sobrecarregado nas turnês e por isso chamaram o Ralf. Não foi uma questão dele "achar complicado" e sim de não suportar vários shows seguidos numa tour pelo cansaço.
Sobre "Heading for Tomorrow" não ser tão boa porque é grande, eu não acho, pois considero a parte mais lenta e instrumental bem interessantes para seguir no desfecho da música.
Valeu pelo comentário Jack. Talvez não tenha me expressado corretamente, mas ele acha complicado por isso mesmo, porque ficava sobrecarregado. Coisa que hoje em dia não acontece mais, como podemos ver nas apresentações do Gamma Ray.
Já quanto a "Heading for Tomorrow" é uma questão de gosto. Mas em meu ponto de vista, ela não se desenvolve tão bem e de forma tão natural como uma "Halloween" ou "Keeper of the Seven Keys", por exemplo.
Fiquei até com vergonha. Jurava que boa parte das músicas citadas eram do Helloween...
Esse disco é uma obra prima, poucas bandas conseguiram logo de início lançar um petardo desses. Na minha opnião o Gammaray é umas das poucas bandas que conseguem lançar um disco melhor que o outro.
Tenho esse album em digipack, do box que eles lançaram a um tempo atrás - Ultimate Collection, importado da Alemanha. Me orgulho de ter este box.
Só me resta a curiosidade... como seria a banda se o Ralf Scheepers tivesse continuado como frontman até hoje.
Olha, se o Ralf tivesse continuado, talvez o Gamma Ray seria uma banda ainda maior do que é hoje. Eu gosto muito da fase em que o Kai Hansen assumiu os vocais, mas acho ele inferior ao Ralf. Seria legal se ele tivesse continuado e o Kai cantasse em algumas músicas e também fizesse duetos com ele, como na música "Money".
E esse box deve ser bem legal mesmo. Eu tenho CD em versão simples mesmo :( rs
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