Há alguns dias atrás eu estava pensando em como se desenvolve o gosto musical das pessoas. Será que o encanto por certo estilo de música ocorre de forma racional ou puramente passional? A maioria das pessoas desenvolvem seu “gosto” com o decorrer do tempo, conforme vão amadurecendo e formando sua própria personalidade. Já outras simplesmente gostam de tudo, rotulam-se então como ecléticas. Alguém eclético, teoricamente aprecia o melhor de cada coisa, possuí um gosto refinado, escolhendo o que mais lhe agrada, independente de qual grupo pertença. Para muitos a maioria das pessoas que se denominam assim, na verdade, não tem gosto próprio, então acharam o substantivo bastante apropriado para disfarçar sua falta de personalidade própria...
Mas será que esse gosto tem haver com a cultura, intelecto, repertório de vida ou qualquer outra coisa do tipo? Poderíamos tentar dizer que tem haver com a educação que a pessoa teve no decorrer da sua vida. Mas até onde eu sei são poucas as pessoas que ouvem o mesmo som que seus pais, ou pior ainda, que ouvem as mesmas musicas que seus professores. Que, ao menos, em teoria seriam seus educadores. Mas possivelmente o grande instrutor musical é a mídia, principalmente para os jovens. Seja há dez anos atrás ou daqui a vinte anos, é provável que a grande mídia continue ditando como deve ser o “gosto” das pessoas. E não só o gosto musical, já que os meios de comunicação ditam também como você deve se vestir, como deve ser seu tipo físico e como se comportar em cada situação.
Porém, em grande parte dos casos, as pessoas desenvolvem encanto por estilos que vão além daquilo exposto pela imprensa. Por exemplo, o tenebroso funk carioca nutria grande número de admiradores, mesmo antes de ganhar repercussão na mídia. O que dizer dos inúmeros fãs de Jazz ou música erudita? São raras as vezes que esses estilos são vistos na TV ou ouvidos nas rádios. A mesma coisa ocorre com o Blues e com o Heavy Metal. Mas o que torna essa discussão ainda mais complexa é: como as pessoas chegam a esses estilos mais desconhecidos? A resposta mais óbvia seria por intermédio de amigos. Mas aí eu lhe pergunto: como esses amigos descobriram essas canções? Por outros amigos, acredito eu. Na verdade isso se torna uma grande rede de pessoas que passam a conhecer novas musicas, talvez até por acaso, acabam gostando do que ouvem, e passam adiante. O próximo também gosta e passa para outro que passa para outro. É a clássica propaganda boca-a-boca.
Isso me faz pensar até que, talvez, você ame ouvir ópera, mas ainda não saiba. Pois ela ainda não lhe foi apresentada, a rede ainda não passou por você. Se um dia ela vir a passar, você pode virar um grande fã do estilo.
No meu caso, por exemplo, o gosto musical não seguiu lógica alguma, pelo menos ao meu ver. Quando era pequeno, assim como nove entre dez pessoas que eram crianças nos anos 80, o que eu ouvia eram clássicos da música mundial, como XUXA, SERGINHO MALANDRO, TREM DA ALEGRIA entre outros menos cotados. Claro, sem deixar de citar, os magníficos discos do JASPION, JIBAN e principalmente do JIRAYA, que eu tinha em fita K7 e que, para tristeza de meus pais, eu sempre queria ouvir no carro junto com eles...
Depois que fiquei um pouco mais velho desenvolvi gosto pelo Reggae de nomes como CIDADE NEGRA, SKANK (que naquela época ainda não tinha surtado por ser parecido com os BEATLES), PATO BANTON e INNER CIRCLE. Ouvindo essas coisas, passei grande parte da minha infância e pré-adolescência. Até que um belo dia resolvi pedir de aniversário um CD do RED HOT CHILLI PEPPERS ou então um do IRA!, não especifiquei qual dos dois, aquele que encontrassem na loja poderia comprar. Nesse caso foi apresentado a essas bandas por intermédio da mídia. Ambos os grupos tinham seus clipes passando de meia em meia hora na MTV. Era época do “Californication” e do “MTV Ao Vivo” respectivamente. Ganhei o do CHILLI PEPPERS. E adorei aquele disco. Pouco tempo depois um primo meu adquiriu o álbum “Meninos da Rua Paulo” do IRA!. Então o monstrinho do rock estava implantado em nossas veias, ou será, que ele sempre esteve lá e somente foi despertado a partir de então? Não demorou e vieram discos do GREEN DAY, FOO FIGHTERS e até um do NIRVANA (credo!).
Mas a grande mudança ainda estava por vir. De algum lugar desconhecido da mente humana, meu irmão sentiu vontade de comprar alguma coisa do METALLICA. Foi até a loja e pediu uma dica para o vendedor de que álbum deveria comprar para começar a conhecer a banda. O vendedor sugeriu o “Black Album”. Meu irmão aceitou a sugestão. Daí pra frente o resto é história. Comecei a ouvir OZZY, BLACK SABBATH, BLIND GUARDIAN, ANGRA, SAVATAGE, IRON MAIDEN, MANOWAR e muito, muito mais coisa. Tanto que até hoje continuo conhecendo bandas novas (não necessariamente novas de estrada, mas novas para mim).
Assim, meu gosto musical continua em mutação. Independente das novas bandas ou artistas que venho a conhecer, começo a gostar de outras coisas que não gostava e deixar de gostar de outras que gostava. Ao mesmo tempo em que bandas que não ligava muito, passo a ver com outros olhos. Mas isso é assunto para a segunda parte do texto, que deverá ser publicado em breve aqui no CAFÉ COM ÓCIO.
Mas voltando ao assunto principal, se alguém enxergar alguma lógica entre sair do Reggae e chegar ao Heavy Metal, por favor, me explique! E como a maioria das pessoas, tive influência da mídia, durou pouco tempo, é verdade, mas tive. Agora ouço coisas que a televisão nunca pensou em exibir na vida. O que é uma pena, pois adoraria ver minhas bandas favoritas na TV.
E você, acredita que possa existir alguma lógica na formação dos gostos musicais das pessoas? Como foi o seu desenvolvimento musical, compartilhe conosco.
20 comentários:
já fui de Xuxa a Queen durante meu processo de crescimento. hahahaha
acho q faz parte tb um pouco da nossa maturidade e eu acho q somos seres mutantes...estamos sempre mudando os gostos, as idéias...eu percebo isso com comida mesmo..tanta coisa q eu não gostava de comer qd era criança e hj como...pq o paladar mudou? como? rs...
meu quarto tem cds e cds de épocas diferentes da minha vida...de Chiquititas a Michael Jackson, Thalia, Backstreet Boys, sem contar as Spice Girls, ídolos da minha adolescência...rs
É, já dizia Raul Seixas que ele preferia ser essa "metamorfose ambulante". E assim também somos nós, vivemos mudando hábitos e conceitos sobre as mais diversas coisas. Assim como é com nosso gosto musical e como o paladar, como você mesmo disse.
Talvez isso não tenha explicação alguma, seja apenas parte da vida. Vai saber, né?
Não sei se é exatamente uma lógica, mas acho que a coisa funciona justamente pela questão da exposição a determinado estilo musical: Você escuta, percebe se gosta ou não e já era. Pelo menos funciona assim comigo. Tanto é que minha playlist fica cada dia um pouco mais esquisita, colocando Slayer, Kreator, Metallica e Led Zeppelin ao lado de Bee Gees, Michael Jackson e James Brown.
Enfim, acho que é uma questão de expor a música e ver a reação de cada um. Ai uma banda leva a outra. A MTV leva ao Chilli Peppers, que leva a outras bandas de rock, que leva ao Metallica, Iron Maiden e outras bandas mais conhecidas, que por sua vez vão levando os ouvintes aos subgêneros do metal. Agora, só não sei se tem lógica nisso ou se já to doente ao ponto de conseguir enxergar uma...
Eu acho que é possível sim uma pessoa gostar de Reggae e Metal ao mesmo tempo. Diferentes estilos musicais exploram diferentes aspectos artísticos da música, é lógico que se você for ouvir uma banda de reggae como ouve uma banda de metal não vai gostar. Porém a partir do momento que você passa a conhecer a proposta musical de cada estilo você aprende a avaliar e a apreciar os diferentes estilos de música. Eu não gosto de reggae, mas escuto metal, jazz, trip-hop, música eletrônica, alguns grupos de hip-hop dos anos 80, entre outras coisas. Sou eclético, mas não por conhecer os estilos superficialmente, mas sim por ter um conhecimento musical mais profundo que me permite reconhecer a arte em diferentes estilos.
A grande questão é: pessoas que só ouvem um estilo de música muitas vezes veem aquele estilo como uma finalidade (talvez seja por isso que o manowar escreve tantas músicas sobre o metal). Minha crítica é que o estilo não deve ser a finalidade da banda, e sim o meio dela se expressar. O principal critério para eu escolher uma música para ouvir é a proposta artística da banda, e não o caminho que ela faz para chegar nesta proposta. Agora estou ouvindo Herbie Hancock, mas hoje a tarde estava ouvindo Deicide,e garanto que aprecio os dois artísticas da mesma maneira.
Raul, minha playlist também é meio confusa hoje em dia, apesar de continuar tendo preferência por Heavy Metal e Hard Rock, tem bastante coisa diferente também, como o próprio Michael Jackson, ABBA, o velho Pato Banton entre muitas outras coisas.
Você provavelmente não está doente em chegar alguma lógica nisso tudo, mas que não é fácil vê-la, isso não é.
André, concordo com você que é sim possível gostar de vários estilos ao mesmo tempo. Mas assim como você disse você tem que ouvir uma banda como ela é, e não querendo comparar com os mesmos parâmetros que você usa nas suas bandas de metal, por exemplo.
E a idéia de que a música deve ser o meio de se expressar e não a finalidade do artista ou banda, é ótima. Acredito que a música sirva pra isso mesmo, independente do estilo proposto.
Ouvi Rock e Heavy Metal desde sempre. Com 9 anos de idade, enquanto todos os meus colegas de escola ouviam as bandas do momento, eu andava por aí com uma camisa do Sepultura!
Nunca me esqueço do dia em que meu irmão chegou em casa com o Holy Live do Angra e o Better Than Raw do Helloween!
Fui de Racionais MC's até Dragon Force. É realmente interessante olhar para trás e ver tudo o que já gostamos e principalmente ver como conhecemos cada gênero e nos tornamos fã de cada artista.
Eu não tive a mesma sorte do Matheus, só comecei a ouvir metal na minha adolescência, com meus 15,16 anos.
É mesmo Jonas, interessante ver a mudança pela qual a gente passa ao longo da vida. E de Racionais MC's à DragonForce é uma bruta mudança, hein? rs
Pois é...Cada coisa que a vida nos dá direito...Fico pensando se eu nunca conhecesse o metal. Nem gosto de pensar na hipótese.rsrsrs
Eu também nem gosto de pensar nisso. Se não tivesse conhecido o metal acho que continuaria no Reagge... sei lá... rs
Ô dono do Café com Ócio, ao ler o seu texto, creio agora que vc seja de pouca idade, por ter começado a gostar de rock assistindo MTV e pelo Red Hot pelo Californication. Pelo seu texto, achei que você era mais velho, assim como eu, por ter despertado minha paixão pelo Heavy Metal exatamente em 1988, quando ainda ouvia mesmo que de saco cheio e por não conhecer outras bandas, Titãs, Engenheiros do Hawai, essas coisas, até gahar de aniversário de um amigo o fabuloso SEVENTH SON OF A SEVENTH SON do Iron Maiden, exatamente no aiversário de 13 anos. Por isso dou-lhe os parabéns pelo blog e por sua escrita elaboradamente consistente, pois achava que vc teria a minha idade nos dias de hj, mas vejo que não, é mais novo e ainda assim escreve muito bem. Eu estava certo que vc iria desrever dessa época, final da década de 80, mas me surpreendi qdo vc descreveu sobre Californication, que vei obem depois. E ainda bem que vc não ficou nos Red Hot e conheceu a música verdadeira. Bom para vc.
Lucas, você começou muito bem hein? Começar com o Seventh Son of a Seventh Son é o que eu chamo de começar com o pé direito, mesmo!
Então, eu tenho 25 anos atualmente, ouço Heavy Metal desde meus 15 ou 16 anos. Mas de lá pra cá, minha paixão pelo estilo só cresce.
Muito obrigado pelos elogios e continue lendo e comentando sempre.
Mano.. qdo pequeno nunca gostei do estava na moda, confesso que música de criança só gostei de Balão mágico pq tinha um disco em casa. Mas, o que eu gostava mesmo era de Roberto Carlos(principamente do disco Ritimo de Aventura,kkk)pq meu pai tinha, e acho que acabei gostando(no entando ele sempre gostou de Amado Batista e eu sempre odiei), nunca gostei de Sandy&Jr, que foi muito popular entre as crianças da minha época!
Mas... então... um belo dia ouvi a musica "uma brasileira" do paralamas, que me apresentou, ou caiu a ficha(tô ficando velho mesmo,kkk) do que era "rock", veio o Titãs (com seu acustico) , depois comecei a ouvir uma coisa que eu odiava com todas minhas forças "MetallicA" (eu odiva Clip Trip, cheio de rock pesado, dance, rap e etc...). Mano minha minha vida mudou, só queira saber disso, comecei no Load, voltei ao "Kill" atraves de amigos e num parei mais, ai veio 89"A radio rock"(que saudade, sniff) ai vieram as bandas clássicas, Depp, sabath, led, Iron etc.... depois veio o Angra, Helloween, stratovarius, rhapsody,(ouvi tanto que me saturei do estilo, mas continuo gostando e ouvindo "essas" bandas, não suas cópias")dream theater, symphony X, Dr Sin (era um pecado num conhecer isso)Golpe de Estado, Eng Haw, com meus 25 conheci Rush(eu odiava- "Pô eles só tem essa tal de tom sawyer!"- dizia)asisti ao RUSH IN RIO i apaixonei pela banda!
Depois veio a decadendia, sempre curti sfot rok(pra quem num sabe é estilo das musicas que passam na "antena um") por causa da minha irmã, e por causa da mesma e do serviço adiquiri o gosto por MPB também, e num dia com uma puta duma "fossa", cheguei a conclusão que bruno&marrone entendiam o que estava pasando.... ai confesso que aderi o gosto pelo estilo o qual a dupla faz parte("algumas", não todas as duplas)!
Hoje em dia aderi banda mais novas como Bullet for my valentine(qdo ouvi disse: esses caras são fã de Metallica, pesquisei e vi que tinha razão!)
Sendo assim.. digo hoje que nunca fui um seguidor do movimento Headbanger, sou guitarrista(por hobby mas sou), experimentar outros estilos apliaram minha visão musical, me mostraram que gosto de musica bem feito, bem trabalhada! Acho que fui critico desde pequeno e minha historia mostra isso!
mano curti a materia, valeu, show de bola
Muito obrigado pelo comentário Jonas Ed.
Cara, sua história na música é bem diversificada hein? Legal! Acho que foi a primeira criança que gostava do Robertão...rs
O negócio é ouvir aquilo que lhe agrada, independente de rótulos.
Bem..ir do reggae ao metal não é nada!Acho muito mais complicado e sem sentido você sair do axé,como eu,para chegar no heavy metal.xD
Acho que como muitos,eu também foi muito influenciada pela midia,e um pouco pela minha mãe.Mas é claro que também desenvolvi gosto crítico.Comecei,de pequena,gostando de axé,chiclete com banana que tocava um certo tanto.E em casa,pela minha mãe escutava mpb[beto guedes],algo de sertanejo que ela gostava[leandro e leonardo;chitãozinho e xororó]e regionais.Depois veio a época de skank,titãs,etc...legião urbana conheci um pouco por conta própria,um pouco pela minha mãe,um pouco pela midia...música clássica,meu pai me levou pra ver certa vez.Jazz,bossa nova,blues,country não lembro direito,acho que na rádio,com exceção da última que foi na escola.E assim foi indo,hip hop e r&b tbm,na rádio...E então eu passei pela terrível época de mal gosto do axé,na infância,com coisas como bonde do tigrão,é o tchan e coisas assim.Nunca gostei,lamentava profundamente ser obrigada a escutar aquilo,quando todas as crianças adoravam e tocavam o dia inteiro.Hoje é o funk que virou essa coisa.-.- qnd algo melhora um pouco chega outra coisa pior.Bem,dai eu já gostava mais de um rock meio pop e MPB...Só cheguei a conhecer metal com 16,17 anos,graças à internet e amigos virtuais.Me defino portanto como 'eclética' não por que goste de tudo,mas pq gosto de muitos estilos diferentes.Tenho um padrão de escolha de qualidade também,embora não possa dizer o mesmo que o cara lá de cima,por que meu conhecimento musical de técnica é pouco,é meio intuitivo,de ouvido,não sou muito conhecedora do lado técnico pra distinguir e dizer se a música é de qualidade.Mas pra mim tem que ser bem trabalhada,apesar do meu julgamento ser meio intuitivo mesmo.E tbm gosto de música como hobby,atualmente aprendo bateria'--'
começo a gostar de certas coisas com o tempo
Venho desenvolvendo pensamento semelhante já há alguns anos. Ao procurar uma imagem que representasse algo sobre o gosto musical, cliquei na imagem do macaco e me deparei com este belíssimo texto publicado 11 meses antes do meu primeiro texto sobre o assunto. Agora acabo de publicar uma continuação: "Como se forma o gosto musical" fazendo uma analogia com o gosto por comida. Com certeza irei citar o presente texto para reforçar o assunto.
Quanto a pergunta, se existe lógica na formação, eu diria: O espírito evolui, o ser humano amadurece, mas para algo melhor dentro de si mesmo. Ele procura dentro de si sua identidade.
http://visaocultcultural.blogspot.com.br/2015/07/gordura-trans-sonora-ii-como-se-forma-o.htm
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